2009-07-01

A place to be

Tudo começou, claro, com a minha morte, esta era esperada por mim, porem aqueles que me cercam jamais pensaram que este dia chegaria tão cedo. A única certeza que eu tinha em minha vida de 35 anos anunciou-se ao fim duma sexta-feira de julho, tão demorada quanto o cerrar duma porta, num breve click - me fui.
Minhas despesas já estão todas pagas, só peço que deixem um pouco (do pouco) que tenho para este simpático agente funerário que de forma nobre atendeu ao meu pequeno pedido, encaminhando-me ao crematório mais próximo. De qualquer jeito, peço desculpas por não estar presente no velório. Apesar de ter freqüentado vários, nunca visei estar neste tipo de ambiente. E por falar em “visar”, já avisto a grama do vizinho - nossa, como é verde!
Uma imensa escadaria se faz a minha frente, a trilha sonora poderia ser do Led Zeppelin, mas a música que me inunda os ouvidos é algo bem mais transcendental; give me love do Harrison. A cada degrau deixado para trás um problema se vai. Estou realmente indo pro céu? Quer dizer, eu nunca acreditei nessas coisas. Se eu não morri, desde quando estou usando drogas? A cidade, para trás, vai ficando pequenina – o google earth nunca conseguirá imagens como esta.
Ao chegar ao cume da escadaria uma voz melódica me chama à espalda, penso que sonhei ouvi-la toda a minha vida:
– Antes de estar vivo eu já estava morto – o ouvi dizer. – Num acidente de carro em 1966, alguém me disse que perdeu a cabeça (por mim) – mas seu parceiro de dueto era bem mais interessante; the doggone girl is mine - ele cantava.
– Uma comédia italiana – assim foi a minha vida, não quero acordar nunca.



the river man said she wasn't sure

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